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Entenda o sobe-e-desce da bolsa no Brasil
Fonte: Diário do Comércio
Agência O Globo/BBC Brasil
Nas últimas semanas, a Bolsa de Valores de São Paulo tem vivido em uma constante montanha russa. Na segunda-feira, o principal índice da bolsa chegou a cair 15%, para se recuperar quase dez pontos percentuais no mesmo dia.
Variações da ordem de 7% de um dia para o outro se tornaram comuns. A queda das ações no país tem seguido o movimento dos mercados internacionais, mas o valor das ações no Brasil tem se mostrado mais volátil do que nos mercados americanos e europeus.
A seguir, a BBC Brasil reuniu algumas perguntas e repostas sobre o que está ocorrendo no mercado e sobre a volatilidade da bolsa.
Por que a bolsa brasileira tem caído tanto?
O principal motivo apontado pela maioria dos especialistas para as recentes quedas fortes das ações no Brasil são os surtos de pânico.
De acordo com os analistas, a bolsa brasileira se valorizou muito neste ano, o que refletia uma realidade que evaporou nos últimos meses. No entanto, com uma queda da ordem de mais de 40% desde o pico da valorização em maio, uma parte das ações já estaria barata e quedas muito grandes, como a vista no começo desta semana, não fariam sentido. "Estamos vendo reações muito emocionais dos investidores", afirma Antonio Castro, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).
Além do pânico, uma das principais dúvidas entre os analistas é como a atual crise vai afetar os resultados das empresas. No começo do ano, a previsão era de que o Brasil - e parte do mundo - continuaria crescendo de maneira expressiva nos próximos anos. Agora essas previsões têm sido revistas para baixo. Como ninguém sabe o tamanho do impacto, as avaliações sobre o valor das empresas se tornam mais erráticas.
Por que a Bovespa se mostra mais volátil do que a maioria das grandes bolsas?
Um estudo do presidente da Abrasca aponta que, nas últimas décadas, a variação do principal índice da Bolsa de Nova York - o Dow Jones - esteve sempre entre uma banda anual máxima em torno de 30% para cima ou para baixo.
No Brasil, essa banda de variação para o Ibovespa tem sido historicamente muito maior. Em 1990, por exemplo, a queda na bolsa foi de mais de 70%, sendo que em 1991 a recuperação foi de mais de 200%.
Alguns motivos explicam essas variações tão grandes. Uma é que apenas algumas empresas representam a maioria das negociações na Bovespa. A Petrobras e a Vale do Rio Doce representam em média 40% dos negócios diários. Isso significa que se essas empresas caem de valor rapidamente, elas derrubam o índice geral.
Além disso, cerca de 50% das empresas que atuam na bolsa brasileira são companhias que vendem commodities, principalmente minerais e grãos. O valor dessas empresas tende a variar junto com o valor dos produtos que elas vendem, o que aumenta ainda mais a variação de preço das ações.
Outro motivo é a alta participação de estrangeiros como investidores - eles são cerca de 70%. Esses investidores tendem a sair da bolsa brasileira quando temem que a situação se deteriore para colocar seu dinheiro em investimentos mais seguros. O fato de ser fácil vender papéis de grandes empresas brasileiras, porque eles são tidos como bons e normalmente encontram compradores, também ajuda a provocar grandes movimentos de venda na hora do pânico.
Quanto a Bovespa já caiu?
Desde o começo do ano, o principal índice da bolsa já caiu em mais de 30% (esse número tem variado muito diariamente). Desde o pico do ano, que ocorreu em maio, a queda já é de mais de 40%.
Até onde a bolsa pode cair?
Os especialistas dizem que é muito difícil fazer qualquer aposta, porque a situação atual da economia é nova.
Segundo Maurício Carvalho, professor de finanças do Ibmec São Paulo, um estudo recente produzido por ele aponta que historicamente quedas de 45% têm se mostrado como um piso (apesar de existirem algumas variações fora da regra). Isso significaria que a barreira dos 40 mil pontos seria um limite para este ano. O pico de 2008 ocorreu quando a bolsa chegou aos 73 mil pontos.
Na segunda-feira (06/10), o índice da bolsa chegou a ficar em 37 mil pontos, para depois se recuperar. "O problema é que as conclusões são tiradas olhando para o passado e não sabemos se elas vão funcionar na situação atual", afirma Carvalho.
Como a queda afeta a economia em geral?
A bolsa brasileira ainda é relativamente pequena em importância para a economia brasileira quando comparada às bolsas nos Estados Unidos ou na Europa. A Bovespa conta com cerca de 500 mil investidores como pessoas físicas e 397 companhias listadas, contra 2.365 na Bolsa de Valores de Nova York, por exemplo.
Apesar disso, as quedas afetam diretamente todos os investidores que têm alguma participação em fundos de investimentos ou fundos de pensão, o que é uma base maior do que os investidores diretos.
Além disso, em períodos de queda, a bolsa deixa de ser uma fonte de financiamento para as companhias, o que pode atrapalhar planos de investimento.